quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DINHEIRO

     A sociedade que Jesus conheceu era muito diferente da nossa. Apenas as famílias poderosas de Jerusalém e os grandes proprietários de Tiberiades podiam acumular moedas de ouro e prata. Os camponeses apenas podiam conseguir alguma moeda de bronze ou cobre, de escasso valor. Muitos viviam sem dinheiro, trocando produtos num regime de pura subsistência.
     Nesta sociedade, Jesus fala do dinheiro com uma frequência surpreendente. Sem terras nem trabalho fixo, a sua vida itinerante de Profeta dedicado à causa de Deus permite-lhe falar com total liberdade. Por outro lado, o Seu amor aos pobres e a Sua paixão pela justiça de Deus levam-no a defender sempre os mais excluídos.
Fala do dinheiro com uma linguagem muito pessoal. Chama-lhe espontaneamente «dinheiro injusto» ou «riquezas injustas». Ao que parece, não conhece "dinheiro limpo". A riqueza daqueles poderosos é injusta porque foi amassada de forma injusta e porque a desfrutam sem a partilhar com os pobres e famintos.
     Que podem fazer aqueles que possuem estas riquezas injustas? Lucas conservou umas palavras curiosas de Jesus. Apesar de que a frase pode resultar em algo obscuro pela sua concisão, o seu conteúdo não há-de cair no esquecimento. «Eu vos digo: Ganhai amigos com o dinheiro injusto para que quando vos falte, vos recebam nas moradas eternas».
     Jesus vem dizer assim aos ricos: "Utilizai a vossa riqueza injusta para ajudar os pobres; ganhai a sua amizade partilhando com eles os vossos bens. Eles serão vossos amigos e, quando na hora da morte o dinheiro não vos sirva já de nada, eles vos acolherão na casa do Pai". Dito por outras palavras: a melhor forma de "lavar" o dinheiro injusto ante Deus é partilhar com os seus filhos mais pobres.
     As Suas palavras não foram bem acolhidas. Lucas diz-nos que «uns fariseus, amantes das riquezas, estavam a ouvir estas coisas, e riam-se Dele». Não entendem a mensagem de Jesus. Não lhes interessa ouvi-Lo falar de dinheiro. A eles só os preocupa conhecer e cumprir fielmente a lei. À riqueza consideram-na como um sinal de que Deus abençoa a sua vida.
     Apesar de vir reforçada por uma longa tradição bíblica, esta visão da riqueza como sinal de bênção não é evangélica. É necessário dize-lo em voz alta porque há pessoas ricas que de forma quase espontânea pensam que o seu êxito económico e a sua prosperidade é o melhor sinal de que Deus aprova a sua vida.
     Um seguidor de Jesus não pode fazer qualquer coisa com o dinheiro: há um modo de ganhar dinheiro, de gasta-lo e de o desfrutar que é injusto pois esquece os mais pobres.

José Antonio Pagola. Tradução: Antonio Manuel Álvarez Pérez



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